






O Castelo de Neuschwanstein foi construído pelo rei Ludwig II, da Baviera. Localizado ao lado de uma montanha nos Alpes alemães, sua construção começou em 1869. As primeiras sementes de inspiração para o grande castelo vieram de um minifestival de Wagner que o Rei Ludwig pediu para o teatro da corte de Munique em 1867. Um dos aposentos é um teatro que o rei construiu de modo que pudessem ali ser representadas as Óperas de Wagner. Este castelo também serviu de inspiração para Walt Disney, que construiu uma réplica na Disneylândia.
O incrível castelo do Rei Louco...
O Castelo de Neuschwanstein, na Alemanha, é o mais visitado do mundo. Não só por seu visual romântico. Também por sua história rocambolesca.
O castelo que o excêntrico rei Ludwig II mandou construir na metade do século 19 parece de conto de fadas. Não foi à toa que inspirou Walt Disney...
Castelos sempre foram construídos por dois motivos:
Primeiro, para evitar invasões.
Segundo, para revelar o poder de seus ocupantes.
O mais famoso castelo do mundo - aquele que recebe 1,3 milhão de visitantes ao ano -, porém, foi erguido com um propósito singular: capricho.
Só isso. Ou, se o caro leitor preferir, para realizar um louquíssimo sonho romântico.
Quando o monumental Neuschwanstein começou a ser edificado, no sul da Alemanha, na segunda metade do século 19, castelos não estavam mais na ordem do dia. Eram um legado da distante Idade Média. Construir algo do gênero - e ainda por cima com 90 metros de altura! - em plena era da indústria, do liberalismo, do romance naturalista, da pintura impressionista e da grande imprensa pode parecer algo tão antiquado quanto atirar bruxos na fogueira ou vestir armadura.
Enfim, águas passadas.
Àquela altura, afinal, os monarcas europeus andavam mais preocupados com a ameaça dos conspiradores republicanos e das colônias rebeldes. Mas o rei da Baviera, Ludwig II - por favor, resistamos a chamá-lo de Ludovico -, não era apenas mais um rei. Longe disso. Ludwig era uma figuraça!
Ele descendia dos Wittlesbach, dinastia que mandou e desmandou na Baviera ao longo de 738 anos. Foi seu avô, Ludwig I, quem criou a Oktoberfest, de Munique. Não só. Vovô também ficou famoso por trocar o trono por um rabo-de-saia. Ao tornar público o envolvimento extraconjugal com Lola Montez, dançarina bígama e plebéia, e, mais que isso, elevá-la à condição de condessa, vovô Ludwig I conseguiu desagradar à rainha, à nobreza, ao povão e até aos biriteiros da Oktoberfest. Inglório final desse conto de fadas: foi obrigado a abdicar em favor do primogênito, Maximiliano II.
Se Maximiliano II passou à história com discrição, seu filho, Ludwig II, puxou ao avô. Ao menos na excentricidade. Culto e belo, subiu ao poder com 18 anos. Chegou a ficar noivo de Sophie, irmã da imperatriz Sissi da Áustria, em um típico arranjo da aristocracia. O casamento jamais ocorreu. No DNA de Ludwig II não constava a predileção sexual do vovô mulherengo. O neto era, digamos, mais chegado ao charme dos cavalariços. Católico praticante, roía-se de culpa, torturava-se por essas escapadas eqüestres, como narrou em manuscritos secretos, cujos originais desapareceram misteriosamente durante a Segunda Guerra Mundial.
Mais que um devoto da fé cristã - ou dos cavalariços -, Ludwig II era, antes de tudo, um entusiasta de Richard Wagner, o compositor que revirou a ópera de cabeça para baixo ao longo do século 19. Apaixonado pela música wagneriana - e, segundo várias fontes, também pelo autor -, o rei beletrista gastou somas polpudas na construção do Teatro Bayreuth e, mais ainda, em caríssimas montagens de espetáculos. Na época, seu mecenato foi criticado à beça. Até porque Wagner era outra figura pra lá de polêmica.
Embora genial na construção de partituras, o compositor de Parfisal e Tristão e Isolda também tinha em pauta idéias oportunistas e anti-semitas e, além disso, fugira com as mulheres de dois amigos (uma delas, filha do colega Franz Lizt). Enfim, o grande músico não regia a própria vida com harmonia. Mas Ludwig II não se importava com o falatório. Vivia recluso, alheio ao disse-quedisse, assistindo a óperas e a concertos na privacidade. Em honra a Wagner, seu idolatrado Wagner, mandou construir a Sala dos Cantores, a maior do castelo. Ela ocupa o 4o andar inteiro da construção - e é toda decorada com motivos de ópera wagnerianas.
Sim, Neuschwanstein, o castelo dos sonhos de Ludwig II, é tão romântico e grandiloqüente quanto a obra de Richard Wagner. Mas, nesse caso, a inspiração não foi musical. O excêntrico Ludwig II tambem era fascinado pela monarquia francesa e, sobretudo, por Luis XIV, o Rei Sol. Foi inspirado nele, e em sua ostentação, que ergueu não apenas Neuschwanstein. Perdulário, também ousou construir outros dois palácios na região: Linderhof e Herrenchiemsee (veja quadros).
"Pretendo reviver o espírito das antigas armadas e dos genuínos cavaleiros alemães, construindo uma fortaleza medieval de verdade nessa montanha", declarou Ludwig II. Foi assim que Neuschwanstein começou a ser erguido, em 1869. Três anos depois, a empreitada consumia 450 toneladas de cimento. Outros sete anos e os gastos com mármore pesavam 465 toneladas no orçamento. Ludwig II não estava nem aí. Mandou pavimentar uma estrada especialmente para erguer o castelo. Em 1881, as despesas já haviam suplantado em seis vezes a estimativa inicial.
Claro que as críticas à obra passaram a ser cada vez mais agressivas. Nem por isso Ludwig II se dignava responder aos desafetos. Queria distância. Quando se mudou para Neuschwanstein, em 1884 - portanto, quinze anos depois do início das obras -, fazia questão de que ninguém visse seu rosto na hora das refeições (detalhe: o rei sempre almoçava e jantava sozinho). A mesa de jantar tinha de ser içada por um sistema de roldanas até um andar acima, para evitar a bisbilhotice de intrusos. Excentricidade é pouco.
Seja como for, Ludwig II não conseguiu aproveitar seu castelo como imaginava. Residiu poucos meses no prédio de seus sonhos. Dois anos depois de estrear a construção, morreu em circunstâncias obscuras. Foi encontrado afogado, no Lago Starnberg, em companhia de seu médico, o dr. Gubben. Tinha 41 anos. Àquela altura, já havia sido diagnosticado como louco, deposto e dado como incapaz de administrar a própria vida - quanto mais o Reino da Baviera. Ainda assim, sabe-se que era um bom nadador, o que torna ainda mais nebulosa sua morte no lago. Teria ele se matado em pacto com o médico? Ou teria sido assassinado por algum inimigo?
ORIENTAIS E CÂMERAS DIGITAIS
Muitos dos milhares de turistas orientais - agora, mais chineses que japoneses - que visitam Neuschwanstein todos os anos não chegam a se fazer essa pergunta. Estão mais atarefados em conhecer o "mais belo castelo do mundo". Quando chegam a Schwangau, nas proximidades da pequena cidade medieval de Füssen - a um pulo da fronteira da Áustria -, parecem mais preocupados em verificar a bateria de suas moderníssimas câmeras digitais. Afinal, deixar de registrar imagens do castelo seria uma suprema desilusão. Alguns sobem até Neuschwanstein de ônibus. A maioria prefere gastar meia hora a pé. Como num respeitoso ritual em homenagem ao Rei Louco.
A maioria dos visitantes também não está nem aí com a opinião de diversos críticos que consideram o castelo a quintessência do kitsch, um pastiche de diversos estilos. De fato, Neuschwanstein é composto de salas góticas, românticas, bizantinas - para ficar em apenas três influências. Para a arquiteta Maria Cristina Wolff de Carvalho, no entanto, essa mistura de estilos não implica necessariamente em equívoco. "Não existe equívoco em arquitetura, desde que a obra seja bonita e funcional", pontifica. Professora de Arquitetura da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, Maria Cristina ressalva que Neuschwanstein deve ser analisado no contexto em que foi criado. Ela debruçou- se sobre os meandros da arquitetura européia da segunda metade do século 19 para escrever o livro Ramos de Azevedo, sobre o renomado arquiteto paulistano. "Era a época do romantismo, do positivismo e da evolução tecnológica", lembra. "Todas essas manifestações estão presentes no castelo. Ludwig II era um homem de seu tempo. Os exageros do castelo refletem o ideal romântico da exacerbação, de sofrer ao extremo, de morrer de amor, típico daquele período." É esse romantismo que atrai 6000 pessoas por dia ao castelo de cinco andares - parecem mais pavimentos devido ao imenso pé-direito de cada piso. Cada visita dura 40 minutos. Na roleta de acesso, o turista apanha o equipamento de áudio. O tour começa pelo 1o andar, onde moravam os serviçais, que se revezavam ao longo de 24 horas, para que o rei sempre tivesse criados à disposição. Os aposentos são austeros, mas confortáveis.
SEM REI, SEM TRONO
Uma escada em espiral leva ao 3o andar, uma vez que o 2o pavimento jamais ficou pronto. Nesse piso é que foi montada a sala do trono. Parece uma igreja bizantina. Pudera. Foi influenciada pela Igreja de Santa Sofia, em Istambul. Mas, onde estaria o trono? Não adianta procurar. Ele não existe. Ludwig II se viu deposto antes que o trono fosse instalado.
O 3o andar tem, também, o apartamento do rei, com sala de jantar, oratório e o dormitório - este, em estilo gótico. Há ainda um quarto de vestir, uma gruta artificial e um jardim de inverno - com vista espetacular para o vale. Mas o maior salão de Neuschwanstein fica no andar de cima. É aquele chamado de Sala dos Cantores e dotado de palco. Foi construído para concertos e decorado, sobretudo, com desenhos em honra ao cavaleiro medieval Percival - aquele que inspirou a obra Parsifal, de Richard Wagner.
A última etapa da visita é o térreo, onde desponta a exuberante cozinha, mantida como nos idos de Ludwig II. Ali se pode constatar que o castelo tinha à época uma infra-estrutura bem moderna. Fica na cozinha o sistema de aquecimento central. Outro exemplo de arrojo é a disponibilidade de água quente ou fria em todos os toaletes, bem como a descarga automática nos vasos sanitários. Neuschwanstein dispunha ainda de campainha elétrica, para chamar os empregados. Ainda hoje polêmico, o castelo é cenário de Ludwig, o denso filme de Luchino Visconti, cineasta sempre interessado na decadência dos poderosos. Mas Neuschwanstein também inspirou o puritano Walt Disney. Baseado nele, o pai de Mickey criou o Castelo da Bela Adormecida, hoje reproduzido em Orlando, na Flórida.
Texto e fotos de Victor Andrade
Matéria publicada na edição 94 (Agosto/2007) de Próxima Viagem
Adaptado pela Dona do Blog...euzinha...
Denise Marcondes